12 agosto 2009

Um dia assistindo vale á pena ver de novo...

Sentada na frente da televisão assistindo os mesmos programas, mesmas novelas, mesmos jogos e mesmas celebridades frescas que só olham pro próprio rabo, ouvi alguém batendo no cadeado do portão. Levantei com aquele ar de:
- 'Que desgraça. Quando eu começo á gostar da novela, vem um diabo me chamar na porta!'.

E fui em direção ao portão bufando um ar de estresse e pensando:
- 'Que porra. Se a novela fosse filme dava pra dar pausa!'.

Chegando no portão, vi um menino de mais ou menos 14 anos em cima de uma bicicleta me perguntando:
- 'Tia, você tem algum trabalho pra mim? Que possa me pagar 10 reais? Eu estou juntando dinheiro para dar um butijão de gás pra minha mãe de presente!'.

Confesso que fiquei sem reação. Quem no século vinte colocaria pra dentro de sua própria casa um menino que nunca viu na vida? Sem saber se era um assaltante, um assassino, sequestrador, se ele guarda uma arma ou uma faca debaixo da blusa. Calmamente eu disse:
- Ô, meu querido! Meu quintal tá limpo, a louça tá lavada, meu quarto arrumei ontem e meu jardim já foi poldado essa semana. Infelizmente não tenho nada pra mandar você fazer!

O menino abaixou a cabeça e disse que não sabe mais onde procurar serviço. Que já foi na igreja pedir á Deus que coloque alguém em seu caminho para que de alguma forma sua vida podesse melhorar, mas que mesmo pedindo em oração ainda não conseguiu os 10 reais. Tirou o dinheiro que tinha no bolso e me mostrou como quem mostra um troféu e disse:
- Olha o que eu já consegui. O cara lá da rua disse que me fazia um butijão por 70 reais. Só tenho 60 e nos outros lugares custa 110.

Eu fiquei sem reação. Me passaram tantas coisas pela cabeça. A primeira delas foi que em minha casa têm três butijões e eu reclamo com minha mãe porque não como carne de boi e no dia ela não fez frango. Lembrei dos anos que estudei em colégios particulares, da educação que tive, da rua que eu moro e do amor que dou á minha família.
Pedi para o menino voltar mais tarde. Ele voltou. Só que quando ele voltou eu estava estressada com meu pai e deu um chega pra lá nele. Deixei ele conversando com meu pai na porta e fui pra meu quarto dormi. Nunca mais ele apareceu aqui na porta de casa.
Fiquei como coração partido e quando coloquei a cabeça no travesseiro pensei numa mensagem que me mandaram certa vez: Deus ás vezes se veste de mendigo pra ver quem ajuda. Alguma coisa desse tipo. Eu só espero que Deus tenha piedade de mim e veja que eu não fiz por mal.

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